“Que fazeis de especial?”
Jesus (Mateus 5, 47)
“Espiritismo e personalismo são dois pólos que não se tocam.”
Célia Xavier
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Célia Xavier


Perdoem-me os leitores que não são de Belo Horizonte.

Eu sou membro da Associação Espírita Célia Xavier, e muitas pessoas nos perguntam amiúde: quem foi Célia Xavier?

Geralmente, os mal informados arriscam algum parentesco com Chico Xavier (mãe, irmã e até filha já foi objeto de cogitação), mas a nossa Célia não tem parentesco com o médium de Pedro Leopoldo, embora já tenha se comunicado através dele.

Célia é belo-horizontina, nascida em 1916 na Rua Tupinambás, filha de José Pedro Xavier e Dona Orlanda Reis Xavier. Aos quatro anos sua família se mudou para Ubá, onde José Pedro trabalhou como joalheiro, dono de uma “joalheria de seis portas” (Relojoaria Ideal). Célia e suas irmãs foram internas do Colégio Regina Coeli em Rio Pomba, considerada a melhor escola da região.

Em uma das férias, enquanto tocava piano, Célia sentiu-se mal, e depois apresentou uma paralisia do lado esquerdo, possivelmente causada por um acidente vascular cerebral.

A família voltou para Belo Horizonte e passou a residir no bairro Santa Tereza. As sequelas foram diminuindo, e ela foi atendida no Hospital Militar, por intervenção do Sr. Neves. A família mudou-se para o bairro Calafate. O Sr.Xavier trabalhava como joalheiro, gravador, cravador e relojoeiro. Ele abriu a relojoaria Brasil em Belo Horizonte, e ensinou seu ofício a muitos outros profissionais da capital mineira.

As mulheres dividiam o serviço da casa, e Célia, já bem melhor, escolheu lavar e passar a roupa. Segundo a irmã, era uma jovem “alegre, trabalhadora e muito religiosa”. Quando moravam na rua Itapecerica, na Lagoinha (antes de mudarem-se para o Calafate), as mulheres da família trabalharam como cortadeiras e costureiras em uma loja de roupas infantis, inclusive Célia. Após mudarem-se, Célia continuou costurando roupas de criança sob encomenda.

Após alguns anos de tranquilidade, Célia queixou-se de dores no lado direito do abdômem, que foram diagnosticadas como um “problema de fígado” e tratadas, na época, com “banhos de luz”. Ela piorou paulatinamente. Tratava-se de um câncer no aparelho digestivo, mas a medicina não dispunha dos recursos diagnósticos que tem hoje.

Na noite da desencarnação, ela chamou a mãe e disse “Mamãe, a senhora foi a melhor mãe do mundo”. Ela indicou à mãe uma lata onde guardava o dinheiro das costuras, que economizara por muito tempo, e pediu que ela pagasse uma empregada antiga que a família tinha e que desse o resto de esmola aos pobres, velhos e aleijados. Pediu à irmã que desse três vestidos para as sobrinhas. Ariadne, sua afilhada, guarda até hoje este vestido. Ela enviou rosas para freiras, suas amigas.

Célia recebeu muitas pessoas amigas, sempre carinhosamente. Disse a uma prima que a tia Taninha (o nome era Sebastiana) estava presente (ela já havia desencarnado) e que pedia que ela fizesse as pazes com o pai (ainda encarnado).Ela não frequentava reuniões mediúnicas, mas viu tantas pessoas no leito de morte que desabafou com sua família: “Meu Deus, devia ter desenvolvido a mediunidade”.

O Monsenhor Horta visitou-a no leito de morte, chamado por um tio, e dispôs-se ouvir-lhe a confissão. Ele pediu que as pessoas saissem para que ela confessasse, ao que ela recusou, porque não tinha pecado algum para confessar. A irmã e a sobrinha-afilhada confirmam que o sacerdote saiu dizendo: “Meu Deus, eu vim confortar essa moça e saí confortado por ela.”

Célia chamou pelo Sr. Antônio Loreto Flores, presidente de um centro espírita ao qual desejava ver. Flores era conhecido por sua mediunidade na capital mineira. Ariadne informou que ele ia ao cinema, no que foi interpelado por Bezerra de Menezes – espírito, que lhe disse: “Célia precisa de você”. Ele chegou para vê-la e cerca de meia hora depois, às 22:35 horas, Célia desencarnou.

Posteriormente, alguns espíritas amigos do casal Xavier os incentivou a construir um Centro Espírita em homenagem à memória da filha.

A história de Célia ganhou notoriedade na capital mineira, e em algum tempo começaram a surgir velas, flores e outros símbolos religiosos colocados por concidadãos em seu túmulo, no cemitério do Bonfim. A família julgou por bem fazer a exumação dos restos mortais, guardando-os em uma gaveta numerada no cemitério para evitar a santificação de Célia pela população.


Agradeço a Ariadne e a Ilza Xavier os dados cedidos.

Nota: Algumas mudanças foram feitas no texto desde a primeira publicação

graças à atenção de Ariadne Xavier, a quem agradecemos.

Texto por Jáder Sampaio, disponível também em Blog Espiritismo Comentado.